30.10.09

Maripol


Designer, artista plástica, fotógrafa, stylist e produtora de filmes, a francesa Maripol foi uma das mentoras de estilo, arte e moda nos anos 1980. Como diretor de arte da Fiorucci, Maripol foi a estilista responsável por colocar a cruz a orelha de Madonna, as pulseiras de borracha em seu pulso e o infame look de vestido de noiva - tudo desenhado por ela. Maripol foi uma parte integrante do centro de Nova Iorque na cena dos anos 80, festejando na lendária Studio 54 e no Mudd Club com os amigos Andy Warhol, Fab Five Freddy e Keith Haring. Não foi apenas Madonna que utilizou dos talentos de Maripol: Debbie Harry e Grace Jones. Maripol produziu vários filmes, incluindo Downtown 81, originalmente filmado na década de 80, dirigida por Edo Bertoglio e escrito por Glenn O'Brien, que tinha a participação de seu amigo, o falecido artista Jean-Michel Basquiat. Visionária, Maripol documentou toda a cena pós-punk americana na primeira metade da década de 1980, em séries infinitas de polaroids, sua marca registada. O legado de Maripol foi materializado no belíssimo livro Maripolarama.


23.10.09

A lenda Les Zazous



Há muito pouca informação confiável a respeito do grupo de resistência francês Les Zazous, que existiu de 1940 a 1942. Menor ainda é a quantidade de imagens sobre eles. Fotos então, nenhuma. Mas, em geral, além de serem citados na música In the Night do Pet Shop Boys, eles eram algo como hipsters que desafiaram a sociedade francesa durante a ocupação alemã.

Gostavam de música negra americana, particularmente o jazz e o swing. Vestiam-se como seus ídolos musicais, e travavam batalhas de dança para exorcizar a raiva, numa versão heterossexual e embrionária do Voguing. Dizem que enfrentaram a polícia e o exército alemão diversas vezes. O aparato visual era meticulosamente escolhido para criticar a situação da Europa nessa época de guerra: roupas largas, sobrepostas e oversized eram um insulto numa época de contenção, mas eles assim se vestiam. Conta-se que, por causa da impossibilidade de música ao vivo, toca discos eram utilizados nos encontros, o que os credenciam como os primeiros DJs.

De acordo com relatos, os Zazous foram produto da repressão, e utilizaram a música para expressar a indignação do que viviam. Totalmente contra a discriminação dos judeus, costumavam escrever Swing nas famigeradas estrelas de identificação nazistas pelos guetos de Paris. Depois de um tempo, pelo perigo que representavam, passaram eles a serem também identificados. Ninguém, porém, tem 100% de certeza da existência dos Zazous. A linha que separa a realidade da ficção é muito tênue. Pode ser apenas um argumento ficcional nazista para manipular a juventude francesa da época. Pode ser apenas projeção dos franceses, que buscavam heróis que os libertassem. Triste, mas, se fossem de verdade, eles deveriam ser bem legais.

O cantor Cab Calloway seria uma das maiores fontes de inspiração para o ideário Zazou - roupas e atitudes:




O pouco material gráfico disponível sobre os Zazous:


 

A estrela nazista que, aparentemente, identificava locais de concentração de Zazous:

22.10.09

A Era Danceteria



Quando a gente olha pra trás, e enxerga as coisas que foram símbolo de uma época, é difícil não criar a relação entre o zeitgeist (o espírito da época), lugares e pessoas. Especialmente lugares. A New Wave, por exemplo, dificilmente teria a força que teve, se não fosse por um clube que existiu durante 6 anos em Nova Iorque. Por esse clube estreou nomes tão icônicos - e díspares - como Madonna e The Smiths. E, como reflexo de sua importância, o nome desse clube acabou se tornando sinônimo de casas noturnas aqui no Brasil durante os anos 80 (E não, Veja São Paulo, não foi o Angelo Leuzzi quem criou o termo, como vocês especularam aqui).

Falo do Danceteria, o clube que foi o epítome dos anos 80. Todo mundo que influenciou de alguma forma o mundo estava no clube: de Keith Haring e Warhol até Beastie Boys, passando por The Cramps e Basquiat. Alguns trabalhando: Os Beastie Boys ajudavam nos serviços gerais antes de fazerem seu primeiro show com o Rick Rubin. Madonna, que era frequentadora assídua do clube na época, fez bicos na chapelaria, e depois como dançarina. Acabou namorando com o DJ residente da casa, Mark Kamins, que também era caça-talentos da Sire Records. Mark apresentou a demo de Everybody, produzida por ele, para o CEO da gravadora. O resto é história. Smiths fez sua primeira aparição nos EUA por lá.

Danceteria era um desses lugares mágicos, que surgem de tempos em tempos, e onde as pessoas certas sonhavam em fazer as coisas certas, pois a hora era certa. Coisa rara de se acontecer, e talvez encontremos algo vagamente parecido recentemente com o Misshapes. No Brasil, especialmente em São Paulo, intuo que o Rose Bom Bom tenha cumprido brilhantemente essa tarefa, seguido pelo Nation, no finalzinho dos anos 80.


Flyer de 09Dez1982, onde uma das muitas apresentações era Madonna:


 

A primeira apresentação da Madonna, em 16Dez1982:



Flyer de 12Fev1983 com Sonic Youth:



Flyer de 24Dez1983, anunciando o show dos Smiths em 05Jan1984:




Flyer de 02Jun1984 anunciando Diamanda Galas:




Fontes:
Todas as imagens de flyers por Robert Lund, em Lundissimo.

17.10.09

Social Class in America


Título: Social Class in America (1957)
Sinopse: PSA sobre classes sociais no sonho americano.
Produtora: McGraw-Hill

Parte 1


Parte 2


Em uma palavra: chocante. É uma lição de sociologia em menos de 15 minutos que quebra todos os tabus sobre filmes educativos, falando diretamente sobre um assunto delicado como divisão de classes, com uma franqueza desconcertante. Porém, essa franqueza é uma visão bem pessimista sobre mobilidade social, e corresponde à visão da psicologia social que estava sendo construída pelo governo americano na época, que é a conformidade.

Um PSA, anúncio de serviço público, e um CSA, anúncio de serviço comunitário, são propagandas transmitidas na rádio ou na televisão, para o interesse público. O principal motivo de existência desse tipo de propaganda é modificar as atitudes do público através da sensibilização sobre questões específicas. Os temas mais comuns de PSA são a saúde e segurança. Em grande parte desses filmes tem fortes elementos manipuladores do olhar da população, tentando influenciá-los a viver de acordo com os ditames morais e éticos da época.

McGraw-Hill, uma das maiores editoras de literatura técnica e de negócios do mundo, foi uma das principais produtoras desses vídeos nos EUA.

How Much Affection?



Título: How Much Affection? (1958)
Sinopse: PSA que fala sobre gravidez adolescente e mostra o valor do planejamento familiar na sociedade americana da época.
Produtora: McGraw-Hill



Um PSA, anúncio de serviço público, e um CSA, anúncio de serviço comunitário, são propagandas transmitidas na rádio ou na televisão, para o interesse público. O principal motivo de existência desse tipo de propaganda é modificar as atitudes do público através da sensibilização sobre questões específicas. Os temas mais comuns de PSA são a saúde e segurança. Em grande parte desses filmes tem fortes elementos manipuladores do olhar da população, tentando influenciá-los a viver de acordo com os ditames morais e éticos da época.

McGraw-Hill, uma das maiores editoras de literatura técnica e de negócios do mundo, foi uma das principais produtoras desses vídeos nos EUA.

A Vida Começa a Terminar Depois dos 40






Um testemunho bem interessante de como a espécie humana conseguiu --digamos-- evoluir. Com o aumento na longevidade de grande parte da população em (ditos) países desenvolvidos e em desenvolvimento, esse folheto torna-se particularmente absurdo. A vida começava a acabar aos 40 anos na década de 1930.

Refúgio de Contentamento



A Loyal Order of the Moose é uma daquelas associações fraternais, abundantemente existentes nos EUA. Não que isso seja ruim, pelo contrário. Essa associação em especial movimenta algo em torno de USD 75 milhões para programas assistenciais em todos os EUA, parte do Canadá, Reino Unido e Bermudas. Mantém postos fixos em quase todo o território americano para ajudar as comunidades locais.

Porém, é muito mais interessante a gente conhecer o trabalho institucional deles. O dono do site Square America achou uma caixa cheia de slides com material explicando o que os Moose faziam. Na décadas de 1960 era comum a distribuição desse tipo de material, que na verdade era multimídia. Dentro dessa caixa geralmente vinham slides para projeção e uma fita cassete a ser tocada enquanto as imagens eram exibidas.

Esse era um material que provavelmente narrava os benefícios de uma cidade que tinha a presença dos Moose. Entretanto, o que tá retratado por eles é assustador: nas palavras do Nick, "uma mistura de Shangri-la com Twin Peaks".